Pai, sou gay…
Em artigo publicado na coluna Das Antigas, do O POVO, neste sábado (17), o jornalista Dimitri Túlio conta uma história triste, mas que serve de alerta às famílias. Confira:
A história que conto a seguir é triste e delicada. Primeiro, porque fala de morte na adolescência. Segundo, porque conta as últimas horas de um menino que – por depoimentos de amigos e textos dele na rede social Facebook – apontam para um garoto acuado entre parentes por ser gay. Terceiro, a narrativa é assumidamente um alerta e uma provocação para pais esquadrinharem o nível de abertura e diálogo que têm com os rebentos. Cada qual com suas diferenças e demandas.
No derradeiro fim de semana, uma conversa agoniante dominou o Facebook de centenas de adolescentes que se relacionam entre Fortaleza e Manaus. Os posts davam conta da decisão inesperada de um menino de 15 anos que resolveu por fim a vida. Numa carta, destinada a 500 e poucos amigos cadastrados na página eletrônica, o infante tentava justificar a partida.
“Eu estava esperando o momento certo para fazer isso… Podem falar pra quem quiser, eu não ligo, nunca fui certo nessa história. Mas eu só preciso justificar isso. Consertar as coisas… Me desculpem. É tão difícil sair de um lugar e perder tudo que você tem e ir para um lugar que sua mãe diz não lhe querer, seu pai diz que pode matar você e que sua avó age como se você tivesse uma doença… ”.
Ex-estudante de uma escola de classe média alta em Fortaleza, o adolescente se mudou para Manaus no ano passado. Lá, longe dos amigos de pátio, shopping e condomínio – outros meninos e meninas que ele desenhava encontrar refúgio – teria passado a se sentir mais isolado e confuso sobre a condição de adolescente diferente.
“Têm pessoas, como a R e você L, que são uma das poucas pessoas que me restam. Eu perdi tudo. Mas eu também cometo erros. Muito mais do que todo mundo. É que perder vocês, significaria muito pra mim. Y, todos nós temos problemas mesmo. E, pessoal, eu sei que vão ler isso e rir de mim. Mas não é humilhação, não pra mim. Pedir perdão nunca tem sido. Pelo contrário, tem sido presente a cada dia na minha vida. Enfim, se me entenderem, eu agradeço. Se não, só quero viver em paz. Me perdoem. ..Vocês tem todos, e eu? O que eu tenho além de um jeito louco, sonhos? Vocês têm tudo que eu queria. Me desculpem”.
O menino, que os colegas rabiscam perilampos, corujas, sacis e espadas, esbanjava dançar ao som de Adele, Lady Gaga e Glee. Nele, moraria dois personagens. O de dentro da casa onde foi escolhido pra nascer e outro, quando estava longe dos olhares do pai, da mãe e da avó. Longe da ausência.
Pois na semana que se foi, uma aula na escola em Manaus teria despertado um desejo estranho no imberbe. “A aula de biologia foi muito produtiva hoje. Muitos analgésicos podem matar. Certo?”, dedilhou no Facebook. Ao que uma amiga digitou: “Jesus te ama, não é isso que Ele quer para você”…
E no tempo em que os posts viraram cartas e capítulos da vidinha explícita de cada um, “há tantas horas próximo a Manaus”, o adolescente teclou: “Tá na hora de tomar uma decisão e tentar acabar com meu sofrimento. My last hours”. E assim o fez.
… “Por que você teve que fazer isso? Por que?”, choramingou uma amiga que foi curtida por outros quatro.
…”Morremos um pouco cada vez que perdemos um ente querido”, comentou outra e enviou duas flores de fotografia e a palavra escura “Luto”.
… “Eu sei que o objetivo não era pôr fim a sua vida, mas sim a sua dor”, adicionou outra adolescente.
… “Vai em paz, digo! Você sempre vai estar nos corações de todos nós! Você merecia mais respeito do que teve. Me desculpa se já te fiz alguma coisa. Fica em paz, mano”, postou um anônimo que foi curtido por mais três.
Fonte: Blog Eliomar
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