O projeto "Patrimônio para todos - uma aventura através das memórias" leva jovens até as comunidades
Iracema As comunidades quilombolas e indígenas do Ceará são revisitadas por jovens estudantes das próprias cidades onde elas são encontradas. O curioso: as histórias são uma novidade para os jovens. O projeto "Patrimônio para todos - uma aventura através das memórias", está levando 520 jovens de sete cidades do Interior e de seis bairros de Fortaleza para aprenderem melhor sobre suas comunidades. Ontem, 25 estudantes do Município de Iracema, na região do Vale do Jaguaribe, tiveram o último dia de entrevistas com a comunidade dos Bastiões, onde vivem quilombolas. Em seu quarto ano de atividades no Ceará, o projeto neste ano iniciou no mês de junho e segue até agosto.
Iracema As comunidades quilombolas e indígenas do Ceará são revisitadas por jovens estudantes das próprias cidades onde elas são encontradas. O curioso: as histórias são uma novidade para os jovens. O projeto "Patrimônio para todos - uma aventura através das memórias", está levando 520 jovens de sete cidades do Interior e de seis bairros de Fortaleza para aprenderem melhor sobre suas comunidades. Ontem, 25 estudantes do Município de Iracema, na região do Vale do Jaguaribe, tiveram o último dia de entrevistas com a comunidade dos Bastiões, onde vivem quilombolas. Em seu quarto ano de atividades no Ceará, o projeto neste ano iniciou no mês de junho e segue até agosto.
Aula de campo no Município de Horizonte. Lá, os alunos conhecem e aprendem sobre as comunidades quilombolas e indígenas existentes no Estado do Ceará
Até o mês que vem serão realizadas 26 oficinas de iniciação a educação patrimonial. Participam jovens entre 15 e 25 anos, após aprenderem em oficinas onde descobrem e reconhecem a importância da preservação da memória de uma comunidade. Esse é o patrimônio imaterial mais valioso deixado por muitas comunidades e que se remodelam geração a geração.
A edição 2012 do projeto está direcionada para o registro do patrimônio cultural de comunidades indígenas e quilombolas, que são muitas, espalhadas por todo o Ceará. Os próprios estudantes registram suas descobertas e relatam as experiências. O material é publicado nas redes sociais do projeto e no blog cujo conteúdo é alimentado pelos próprios jovens.
Ao todo são realizadas este ano 26 oficinas de iniciação a educação patrimonial, com atividades durante seis dias em cada local. Entre 23 e 28 de agosto, o projeto esteve em Iracema, no Vale do Jaguaribe, e em Aratuba, no Maciço de Baturité. Já passou por Poranga e Monsenhor Tabosa (Sertão dos Inhamuns), Itarema (Litoral Oeste do Estado), Horizonte (Região Metropolitana de Fortaleza) e Tururu (Vale do Curu - Litoral Oeste). Em agosto, será a vez dos alunos já inscritos de seis bairros de Fortaleza: Jardim Iracema, Pici, Sabiaguaba, Joaquim Távora, Piedade e Montese. As cidades foram escolhidas para contemplar a diversidade de regiões e levando em consideração a população das comunidades indígenas e quilombolas existentes nas mesmas. Em Fortaleza, os bairros foram escolhidos considerando as fortes relações das culturas afrodescendentes e/ou indígenas em suas formações.
Das sete cidades do interior pesquisadas, três delas possuem registros de comunidades quilombolas: Horizonte (Bairro Alto Alegre, com 76 pessoas), Tururu (Comunidades Água-Preta e Conceição dos Caetanos, respectivamente 361 e 805 pessoas) e Iracema (Bastiões: 264 pessoas). O projeto Patrimônio para Todos teve início no ano de 2009, como parte integrante do Programa de Qualificação Profissional, Valorização e Difusão do Patrimônio Cultural do Ceará, desenvolvido pelo Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC), por meio da Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho. Nos três primeiros anos, suas ações alcançaram 24 bairros de Fortaleza e mais de dez comunidades urbanas e rurais dos Municípios de Limoeiro do Norte, Aracati e Aquiraz.
Relatos
No blog usado pelos participantes do projeto podem ser encontrados alguns relatos. "Hoje começamos as visitas à campo na Comunidade de Bastiões em Iracema e fomos muito bem recebidos por todos. Conhecemos pessoas incríveis como a Dona Mariquinha, que aos 99 anos se mostra uma mulher forte e de muitas memória. Conhecemos também uns garotos muitos talentosos, que revolucionaram a cultura de Bastiões inspirados pela cultura HIP HOP e que praticam o ´Free Step´".
Outro relato referiu-se ao encontro com comunidades indígenas da Zona Norte do Estado: "Crescemos bastante. Estamos remexendo, interligando e ganhando consistência em nós mesmos, como ingredientes de um caldeirão fervilhante de tradições e costumes. A leitura e compreensão do caderno étnico indígena parece ter reforçado o auto reconhecimento do grupo aos índios Kanindé. Descobrimos durante a aula que o Toré do povo do Sítio Fernandes é distinto dos Tremembés de Almofala, fato de relevante importância para os participantes que demonstraram interesse e conhecimento a cerca do movimento e luta de sua comunidade. É impossível amar ao que desconhecemos o valor. Enfatizamos essa afirmativa e temos tocado a identidade desses jovens enquanto indígenas"
Dentre as atividades dos estudantes de Iracema, estiveram a finalização da leitura dos cadernos étnicos e discussão sobre o processo de reconhecimento da comunidade dos Bastiões como um grupo remanescente de afrodescendentes.
O Caderno Regional do Diário do Nordeste publicou, pela primeira vez na imprensa, reportagem sobre a existência da comunidade quilombola que teve início com a chegada de duas escravas fugidas, que constituíram famílias que deram origem aos cerca de 260 quilombolas que ainda moram no lugar. A comunidade ainda está em processo de reconhecimento e delimitação por parte do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Ceará.
O movimento indígena no Ceará voltou a ganhar força na passagem entre os séculos 20 e 21, ou seja, nas últimas duas décadas. São comunidades espalhadas especialmente nas regiões Norte, Sertão dos Inhamuns e Região Metropolitana. Grupos de estudos criados especialmente nas Universidades tem ajudado a dar visibilidade aos processos de lutas.
Para o Pajé Luís Caboclo, da etnia Tremembé de Almofala, visitada pelos jovens do projeto, a vez é de o índio ter voz para mostrar que existe e que a sua luta está bem firme. E, dessa forma muitos jovens passaram do sentimento de surpresa ("existe índio no Ceará?") para o entusiasmo sobre as possibilidades de conhecer as outras etnias e, assim, o processo de origem e ocupação histórica da própria cidade em que vive.
Participantes 520
jovens de sete cidades do Interior e de seis bairros de Fortaleza são levados pelo projeto para aprenderem melhor sobre suas comunidades
Mais informações:
Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho
Av. Francisco Sá, 1801 Jacarecanga, Fortaleza, Ceará
Tel: (85) 3238.1244
MELQUÍADES JÚNIORREPÓRTER
Até o mês que vem serão realizadas 26 oficinas de iniciação a educação patrimonial. Participam jovens entre 15 e 25 anos, após aprenderem em oficinas onde descobrem e reconhecem a importância da preservação da memória de uma comunidade. Esse é o patrimônio imaterial mais valioso deixado por muitas comunidades e que se remodelam geração a geração.
A edição 2012 do projeto está direcionada para o registro do patrimônio cultural de comunidades indígenas e quilombolas, que são muitas, espalhadas por todo o Ceará. Os próprios estudantes registram suas descobertas e relatam as experiências. O material é publicado nas redes sociais do projeto e no blog cujo conteúdo é alimentado pelos próprios jovens.
Ao todo são realizadas este ano 26 oficinas de iniciação a educação patrimonial, com atividades durante seis dias em cada local. Entre 23 e 28 de agosto, o projeto esteve em Iracema, no Vale do Jaguaribe, e em Aratuba, no Maciço de Baturité. Já passou por Poranga e Monsenhor Tabosa (Sertão dos Inhamuns), Itarema (Litoral Oeste do Estado), Horizonte (Região Metropolitana de Fortaleza) e Tururu (Vale do Curu - Litoral Oeste). Em agosto, será a vez dos alunos já inscritos de seis bairros de Fortaleza: Jardim Iracema, Pici, Sabiaguaba, Joaquim Távora, Piedade e Montese. As cidades foram escolhidas para contemplar a diversidade de regiões e levando em consideração a população das comunidades indígenas e quilombolas existentes nas mesmas. Em Fortaleza, os bairros foram escolhidos considerando as fortes relações das culturas afrodescendentes e/ou indígenas em suas formações.
Das sete cidades do interior pesquisadas, três delas possuem registros de comunidades quilombolas: Horizonte (Bairro Alto Alegre, com 76 pessoas), Tururu (Comunidades Água-Preta e Conceição dos Caetanos, respectivamente 361 e 805 pessoas) e Iracema (Bastiões: 264 pessoas). O projeto Patrimônio para Todos teve início no ano de 2009, como parte integrante do Programa de Qualificação Profissional, Valorização e Difusão do Patrimônio Cultural do Ceará, desenvolvido pelo Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC), por meio da Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho. Nos três primeiros anos, suas ações alcançaram 24 bairros de Fortaleza e mais de dez comunidades urbanas e rurais dos Municípios de Limoeiro do Norte, Aracati e Aquiraz.
Relatos
No blog usado pelos participantes do projeto podem ser encontrados alguns relatos. "Hoje começamos as visitas à campo na Comunidade de Bastiões em Iracema e fomos muito bem recebidos por todos. Conhecemos pessoas incríveis como a Dona Mariquinha, que aos 99 anos se mostra uma mulher forte e de muitas memória. Conhecemos também uns garotos muitos talentosos, que revolucionaram a cultura de Bastiões inspirados pela cultura HIP HOP e que praticam o ´Free Step´".
Outro relato referiu-se ao encontro com comunidades indígenas da Zona Norte do Estado: "Crescemos bastante. Estamos remexendo, interligando e ganhando consistência em nós mesmos, como ingredientes de um caldeirão fervilhante de tradições e costumes. A leitura e compreensão do caderno étnico indígena parece ter reforçado o auto reconhecimento do grupo aos índios Kanindé. Descobrimos durante a aula que o Toré do povo do Sítio Fernandes é distinto dos Tremembés de Almofala, fato de relevante importância para os participantes que demonstraram interesse e conhecimento a cerca do movimento e luta de sua comunidade. É impossível amar ao que desconhecemos o valor. Enfatizamos essa afirmativa e temos tocado a identidade desses jovens enquanto indígenas"
Dentre as atividades dos estudantes de Iracema, estiveram a finalização da leitura dos cadernos étnicos e discussão sobre o processo de reconhecimento da comunidade dos Bastiões como um grupo remanescente de afrodescendentes.
O Caderno Regional do Diário do Nordeste publicou, pela primeira vez na imprensa, reportagem sobre a existência da comunidade quilombola que teve início com a chegada de duas escravas fugidas, que constituíram famílias que deram origem aos cerca de 260 quilombolas que ainda moram no lugar. A comunidade ainda está em processo de reconhecimento e delimitação por parte do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Ceará.
O movimento indígena no Ceará voltou a ganhar força na passagem entre os séculos 20 e 21, ou seja, nas últimas duas décadas. São comunidades espalhadas especialmente nas regiões Norte, Sertão dos Inhamuns e Região Metropolitana. Grupos de estudos criados especialmente nas Universidades tem ajudado a dar visibilidade aos processos de lutas.
Para o Pajé Luís Caboclo, da etnia Tremembé de Almofala, visitada pelos jovens do projeto, a vez é de o índio ter voz para mostrar que existe e que a sua luta está bem firme. E, dessa forma muitos jovens passaram do sentimento de surpresa ("existe índio no Ceará?") para o entusiasmo sobre as possibilidades de conhecer as outras etnias e, assim, o processo de origem e ocupação histórica da própria cidade em que vive.
Participantes 520
jovens de sete cidades do Interior e de seis bairros de Fortaleza são levados pelo projeto para aprenderem melhor sobre suas comunidades
Mais informações:
Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho
Av. Francisco Sá, 1801 Jacarecanga, Fortaleza, Ceará
Tel: (85) 3238.1244
MELQUÍADES JÚNIORREPÓRTER
Diário do Nordeste
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