terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

PONTO DE CULTURA Projeto capacita artesãos em Iparana



22/2/2011
Saberes e fazeres artesanais da comunidade de Imbuaça, na Praia de Iparana, são resgatados por gerações
Caucaia. O fazer artesanal está sendo vivenciado, diariamente, por adolescentes e adultos da localidade de Imbuaça, na Praia de Iparana, neste Município. O grupo, formado por 40 jovens, faz parte do Ponto de Cultura Artesanato e Tradição, iniciado em 2009. Marcada pela história de mobilização pelos direitos, a comunidade viu no artesanato a possibilidade de romper com a exclusão social.

Esta é a segunda turma do Ponto de Cultura. Cada uma delas participa de um ano de atividades, conhecendo e praticando cinco modalidades artesanais: tecelagem, bordado, filé, cerâmica e xilogravura. Além das atividades artesanais, os alunos participam de ações sociais, de educação ambiental e passeios culturais. "Damos uma formação cultural e artística para os participantes", afirmou o coordenador pedagógico do projeto, Alysson Maciel.

A coordenação do projeto foi buscar nos melhores profissionais das áreas trabalhadas a experiência necessária para se desenvolver produtos de qualidade. Aliado à isto, estão agregando o saber comunitário na prática de tecer tapetes. "A nossa experiência é em tecelagem. O Ponto de Cultura veio potencializar este fazer e também outros novos. Aqui o fazer artesanal é muito forte na nossa tradição", afirmou o coordenador do Ponto de Cultura, Gilberto Brito. Ao final, a coordenação espera montar um Museu Comunitário dos Saberes e Ofícios do Artesanato Cearense, em Iparana.

Para o coordenador Gilberto Brito, a localidade de Iparana é estratégica para este novo empreendimento cultural. "Nós não temos nenhum Museu de Tradições. Se você mexe com esses saberes todos, está em uma rota turística e em uma área em desenvolvimento, como estamos, tem tudo para dar certo", afirmou.

Nesse processo de incubação do museu, os jovens da comunidade estão se preparando para este novo desafio. A estudante Daniele Costa Leite, de 17 anos, já faz artesanato com chinelos de borracha. Viu o curso como oportunidade de agregar novos saberes à sua prática. "Eu bordo chinelos, decoro-os. Vim aprender mais coisas", afirmou.

Já a adolescente Andressa Batista Dias, de 14 anos, conta que o primeiro tapete produzido durante as aulas foi motivo de espanto para família. "A primeira peça levei para mostrar lá em casa. Gostaram muito e nem acreditam que foi eu que fiz", relatou. Ela diz, também, que os conhecimentos aprendidos no Ponto de Cultura, pretende levar para outras pessoas.

"Eu incentivo. Gosto de vir aprender coisas novas e repassar para outras pessoas. Não deixar o nosso artesanato desaparecer", afirmou. "Eu amo o bordado, mas estou ansiosa em prender a cerâmica", afirma ela. Juliana Rodrigues Barros, de 17 anos, trouxe a experiência de casa para compor suas aulas. "Minha mãe faz crochê. Eu sei mais ou menos. Ela e minha irmã já faziam o curso e eu decidi participar", disse.

As atividades do Ponto de Cultura Artesanato e Tradição acontecem no Centro de Artesanato de Imbuaça, local fundado em 1990 e que abriga também a Fundação Irmã Zilpha Augusta Bezerra. Lá estão reunidos os movimentos sociais da localidade, conforme conta o coordenador pedagógico Alysson Maciel Pinto. "Aqui estão reunidos vários movimentos. Apesar da pouca estrutura é aqui que a comunidade se reúne", disse.

Resultados
Para Gilberto Brito, um dos principais resultados alcançados pelo Ponto de Cultura "foi gerar o interesse dos adolescentes para o artesanato. Eles vêm aqui, participam. O aprender artesanal tem esse envolvimento", complementando, "sabemos que onde vamos colocar as sementes, vai brotar". Como fruto do trabalho, a turma de 2010 está desenvolvendo modelos de bordados para oferecer à compradores. "Estão procurando o produto. Estamos desenvolvendo os protótipos para oferecermos um produto profissional", disse.

Além disso, dez teares estão sendo confeccionados pelos próprios estudantes. Com início previsto para daqui a três meses, o objetivo é que os alunos produzam tapetes em suas próprias residências. O projeto, denominado Tear no Lar, deverá ser o pontapé inicial para o Museu Comunitário. "Acreditamos no futuro dessa comunidade. Aqui é bonito e as pessoas vivem aqui", finalizou o coordenador pedagógico, Alysson Maciel.

Resultados
"O Ponto de Cultura veio potencializar o fazer artesanal de Iparana e outros novos"
Gilberto Brito
Coordenador do Ponto de Cultura

"O contato das pessoas com a cultura é um dos resultados que alcançamos"
Alysson MacielCoordenador pedagógico do projeto

MAIS INFORMAÇÕES
Ponto de Cultura Artesanato e Tradição - Centro de Artesanato de Imbuaça - Iparana - Caucaia (CE)
Telefone: (85) 3318.9339

EMPREENDIMENTO SOCIAL

Museu Comunitário à vista

Caucaia. Uma indústria artesanal doméstica. Partindo deste princípio é que a coordenação do Ponto de Cultura Artesanato e Tradição, na Praia de Iparana, pretende viabilizar o Museu Comunitário. "Estamos nos constituindo como museu dos saberes e dos ofícios artesanais cearenses", afirmou o coordenador do projeto, Gilberto Brito. Para isso, além de repassar os saberes e fazeres do bordado, cerâmica, xilogravura, tapete e filé para jovens e adultos, o projeto tem articulado uma rede produtiva.

Atualmente, os alunos capacitados no Ponto de Cultura estão produzindo 10 teares para a confecção de tapetes. "Os tapetes serão os alavancadores do museu", afirmou. Afora a criação e potencialização dos produtos artesanais já existentes na comunidade, os saberes também serão repassados. "Nós queremos vender a demonstração e não só produto", completou Brito.

Estes são os pilares de um Museu Comunitário: revitalizar, pesquisar, demonstrar, vender, conviver. Surgidos no final do século XX, os museus comunitários relacionam a história da comunidade, suas raízes, produções culturais, à perpetuação do fazer artístico e suas significações. A relação socioeconômica também tem importância neste processo. "Queremos receber escolas, universidades e turistas que queiram vivenciar e aprender o artesanato de Iparana, mas de uma forma profissional", afirmou Gilberto Brito.

Para isso, o projeto espera conseguir parcerias. "Não podemos esperar somente dos editais. Atualmente só recebemos apoio do Ponto de Cultura. Mas vamos bater na porta das empresas que estão aqui, que já sinalizaram apoio", disse Brito.


EMANUELLE LOBO
Diario do Nordeste 22/02/2011

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