Segue abaixo o texto do jornalista Marcel Bezerra sobre a ausências das torcidas organizadas do Ceará e do Fortaleza nos jogos inaugurais do estádio Castelão.
Contra a barbárie organizada nos estádios
“Inauguração do Castelão não terá presença das torcidas organizadas de Ceará e Fortaleza”. Eis uma das melhores notícias dos últimos tempos no futebol. Torcidas “organizadas”, na atual configuração, são absolutamente dispensáveis, desnecessárias mesmo, ao esporte. Seus integrantes não respeitam o patrimônio público, não respeitam os outros torcedores (que, próximos a elas, têm visão do jogo comprometida) e nem a Polícia Militar.
Elas também incitam, por meio de seus cantos eivados de palavrões, a violência, aglutinam gangues rivais até entre si, praticam uma relação promíscua com dirigentes de clubes em troca de benesses (como ingressos e apoio a viagens). Por outro lado, têm-se revelado rentáveis negócios com a comercialização de produtos, muitas vezes à custa da exploração indevida da imagem dos clubes. Nas ruas, a caminho dos jogos, as hordas com seus integrantes amedrontam pedestres, ameaçam cobradores de ônibus em dias de jogos.
Ao convocar líderes de “organizadas” para “ajustar um plano de ação” na rodada dupla do próximo dia 27, no Novo Castelão, o Poder Público dá a aglomerações perigosas uma legitimidade que eles nunca deveriam ter tido em toda a sua existência. Eles não querem se responsabilizar por barbaridades cometidas por seus componentes.
Vejam só a que nível de prepotência chegaram as “organizadas”: “Na reunião (…) os líderes das torcidas defenderam o cancelamento da rodada. Para eles, o ideal seria ou inaugurar a Arena Castelão com um Clássico-Rei ou separar as partidas num sábado e num domingo”. “Queremos evitar é morte”, avisou um dos “líderes”, em claro tom confessional. Viram?
Tradução: os mesmos responsáveis por afastar milhares de famílias dos estádios (quem não conhece um pai que disse não mais voltar a estádio, pelo menos em dia de clássico-rei, por medo da violência?), ainda sugerem que os calendários sejam alterados por causa deles. Contra este argumento, apenas uma pergunta: na sua opinião, a ausência de torcidas organizadas inviabiliza uma partida de futebol?
O Novo Castelão, com suas cadeiras numeradas e o alto investimento que demandou, pode significar um passo adiante no sentido de recobrarmos a convivência harmoniosa nos estádios de futebol. Isso se dá ao se proporcionar um melhor tratamento ao torcedor que já paga caro por espetáculos de qualidade sofrível nos últimos tempos (esse, um assunto para outra ocasião), garantindo-lhe o direito ao assento que comprou, assim como segurança para levar a sua família para ver um jogo.
Além disso, se, pressionados pela necessidade de dar exemplo para mostrar que têm condições de realizar uma Copa do Mundo, os Poderes Públicos radicalizarem a exigência por um comportamento civilizado no estádio, o Castelão poderá nos deixar em vias de inaugurar uma nova fase nas relações humanas no futebol. Quer torcer? Compre seu ingresso e vá ao estádio “normalmente”. Nelson Rodrigues tinha razão: “… a multidão não é só desumana, como desumaniza”. Ainda mais, se “organizada” como vemos nos maus exemplos. Uma coisa não dá mais: admitir a barbárie como um comportamento natural entre nós.
Marcel Bezerra
Jornalista
Via Blog Roberto Moreira
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