CAUCAIA
Desmonte atinge a Saúde
12.10.2008
População afirma que ações são represálias por derrota na eleição. Prefeitura não se pronuncia a respeito
Quem passa pelo município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, não faz idéia do que acontece na sede e distritos logo após o resultado das urnas, no domingo, dia 5 de outubro. Demissões em massa de pessoal terceirizado, principalmente nas áreas de Educação e Saúde, falta de médicos, enfermeiros, medicamentos nas unidades básicas de saúde e fechamento da maternidade Abelardo Gadelha são denunciados pela população como atos da atual gestão municipal desde a última segunda-feira.
Não é difícil comprovar o caos instalado na cidade. Na Unidade Básica e Saúde Francisco Paulo Pontes, na Jurema, a principal queixa dos moradores é a falta de vacina e medicamentos em geral. A dona-de-casa Ediana Fonseca, de 24 anos de idade, até tentou vacinar seu filho de quatro meses, mas em vão.
Depois de longa espera de duas horas e debaixo de sol quente, ela foi informada que a vacina contra o rotavírus - vírus causador da diarréia grave freqüentemente acompanhada de febre e vômitos - estava em falta e sem prazo para chegar. “Além do atendimento ser péssimo, agora temos que passar por isso”, indigna-se ela sendo obrigada a retornar para casa.
No Hospital Abelardo Gadelha, que faz parte de um complexo com a maternidade do mesmo nome, ninguém se entende. A dona-de-casa Maria Lucivania Ferreira conta que não consegue dormir e nem se alimentar direito desde que seu filho, Brian, de nove anos, foi atropelado em frente de casa e precisa urgentemente de uma cirurgia na perna esquerda.
“Todo dia eu venho aqui e nada. Já mandaram ele para o Frotão (Instituto José Frota, em Fortaleza), onde Brian ficou em uma maca até retornar para cá. Acho que só com reza a coisa melhora”, acredita.
A equipe de reportagem foi impedida de entrar no hospital e, na frente do prédio, na Rua Paulo Gomes da Silva, foi abordada por várias pessoas revoltadas pela situação da instituição. “Os pacientes estão nus porque nem as batas estão limpas e a maioria não usa roupa de casa”, relata a dona-de-casa Lucivania Ferreira.
Por falta de pessoal, equipamentos e remédios, a maternidade, situada ao lado do hospital, fechou as portas. A futura mamãe Rita Barbosa que tentava, ontem de manhã, atendimento foi encaminhada para a maternidade Paulo Sarasate, que possui estrutura mínima para acolher toda demanda.
O auxiliar de enfermagem Antônio José Pereira Ferreira, de 30 anos, foi um dos demitidos logo após o resultado das eleições municipais. Ele tinha cargo comissionado no Posto de Saúde Teresinha Lima e mesmo sendo eleitor declarado da prefeita Inês Arruda, foi demitido na última quarta-feira junto com mais dois atendentes e dois seguranças.
Ferreira afirma que não sabe o que fazer de agora em diante. “Vou apelar para um vereador amigo para conseguir ajuda. O pior é que sei que por ser partidário de quem me apunhalou pelas costas não tenho chances na administração futura”. O desempregado pediu para não ser fotografado, confessando medo de mais retaliações”.
A funcionária Maria Luíza (nome fictício) afirma que igual situação está a Educação no Município. “São listas de demitidos que ficam com uma mão na frente e outra atrás”, diz. O pior, avalia, será quando o prefeito eleito tomar posse e encontrar Caucaia “só um buraco”. Ela acredita que, assim como as dificuldades nos postos e fechamento da maternidade, escolas podem fechar as portas e prejudicar crianças e adolescentes. No entanto, no dia de ontem, as instituições educacionais do Município funcionaram normalmente.
A reportagem procurou ouvir representantes da Prefeitura Municipal. O único autorizado a falar é o radialista Edílson Alves, assessor direto da prefeita. Ele foi procurado e não se pronunciou. Uma de suas secretarias informou que ele viajou para Maceió, onde participa de seminário.
Lêda GonçalvesRepórter
ENQUETE
A Sra. foi prejudicada pela ação da Prefeitura?
Carla Nascimento
24 ANOS
Estudante
Claro que fui prejudicada pela decisão da Prefeitura. Todo mundo do Município está sendo. Meu pai, por exemplo, precisou de atendimento médico no posto de saúde e não teve.
Keitiane dos Santos
23 ANOS
Dona-de-casa
Fui diretamente prejudicada com o desmonte da saúde. Meu filho de nove anos precisa ser operado da perna e está aí dentro do hospital, nu e sem medicamento para dores.
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=580270
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